Quando Jó encerrou sua resposta a Elifaz,
ele confessou: “Pequei”, percebendo que
Deus é o Observador da humanidade. Poderíamos esperar que Bildade, quando começasse
a falar, fizesse alguma alusão a isso, mas parece que ele não fez. Em vez disso,
ele acusou Jó de proferir palavras como o sopro de um vento impetuoso e, para manter
a retidão de todos os julgamentos de Deus, insinuou que os filhos de Jó deveriam
ter sido tirados como punição da transgressão deles. Deve ter sido um golpe amargo
em Jó, já que ele oferecia sacrifícios com muita regularidade por eles. Mesmo assim,
ele aconselhou Jó que, se ao menos ele fosse reto e buscasse a Deus, seria abençoado
em seus últimos dias.
Nos versículos 8 a 10, Bildade revelou
seu próprio ponto de vista no argumento que estava desenvolvendo. Ele deu grande
importância aos tesouros acumulados da sabedoria humana. Mesmo nesses tempos remotos,
era possível pesquisar nos registros preservados desde os tempos ainda mais remotos.
Se Elifaz argumentou a partir de sua própria observação – o que ele pessoalmente tinha visto
– Bildade argumentou por tradição – o que poderia ser aprendido com os registros dos dias passados.
Ele desconfiava de uma dedução da experiência pessoal de alguém, já que os dias
de um homem na Terra são apenas “uma sombra”
(TB).
Por isso, no restante do capítulo, ele
resumiu o que a tradição ensinaria, ilustrando seu ponto de vista pelas coisas da
natureza, como o junco e a teia de aranha. Ele alegou que toda a história mostrou
que Deus retribuiu o homem de acordo com os méritos deles. Se for mal, é cortado.
Se for bom, é próspero. Dizer a Jó que “a
esperança do hipócrita perecerá” foi um golpe desta vez não nos filhos de Jó,
mas no próprio Jó.
Isso fez brotar em Jó as palavras marcantes
registradas no capítulo 9. Ele começou reconhecendo a retidão dos caminhos disciplinares
de Deus, mas levantou a importantíssima questão sobre como um homem poderia ser
justo para com Deus. Em nossos dias, a frase conciliatória “Acertar-se com Deus”
tem sido usada para despertar o interesse pela mensagem do evangelho. Pode muito
bem provocar a resposta: “Sim, mas como isso deve ser alcançado?” Essa é apenas
a pergunta feita por Jó no versículo 2, e o restante do capítulo revela quão sério
e sincero ele era ao indagar isso, pois sugeriu e examinou quatro respostas possíveis.
Cada sugestão começa com um “Se”.
A primeira é, obviamente, o versículo 3.
Suponha que o homem adote uma atitude desafiadora e contenda com Deus; o que sucederá então?
Fracasso e nenhuma justificação! O pecado transformou os homens em rebeldes; portanto,
desafiar a Deus é seu primeiro instinto. Mas Jó viu como essa atitude seria desastrosa.
Deus é tão infinitamente grande que nenhum rebelde pode prosperar, e até o versículo
19 ele continua esse tema. A Terra e os céus com suas constelações proclamam a grandeza
e a glória do Criador.
No versículo 20, Jó sugeriu outra resposta
possível: Como ele poderia ser justo para com Deus? Bem, poderia ele se justificar?
Isso significaria pelo menos um abandono da atitude desafiadora e a admissão interior
de estar errado, e, portanto, a necessidade de ser justificado. A justificação
própria é uma proposta muito atraente, mas Jó apenas a citou para
descartar a ideia como impraticável. Ele sabia que tinha apenas que abrir a boca
para se condenar. Além disso, aquele que fosse se justificar diante dos olhos perscrutadores
de Deus deveria ser capaz de poder demonstrar sua própria perfeição. Nada menos
do que isso iria satisfazer, como mostra o versículo 20. Ele continuou afirmando
que, mesmo que fosse perfeito, Deus o julgaria e o destruiria, pois ele conhecia
a perfeição como é estimada de acordo com os padrões humanos.
No versículo 27, encontramos o terceiro
“Se”. Ele não podia desafiar o Deus do
céu, nem poderia se justificar: então deveria desistir da esperança, abandonar sua
busca pela resposta e entregar-se à negligente
procura do prazer? A natureza humana não mudou, pois muitos de nós seguimos
apenas a linha de pensamento que Jó divulgou aqui; só que ele imediatamente descartou
a ideia, percebendo o quanto era inútil. Se negligentemente esquecermos, Deus não
esquece. O pecador não escapa ao julgamento de Deus, recusando-se a enfrentar a
questão.
O quarto “Se” ocorre no versículo 30. Jó descartou três sugestões de respostas
para sua pergunta; a sugestão de desafio, de justificação própria e de negligente esquecimento. E quanto a uma senda de aperfeiçoamento
próprio? Será que isso ajudaria na solução da questão? Ele apenas a declarou
para rejeitá-la com igual decisão. Ele sabia que a neve derretida daria água destilada
do tipo mais puro, possuindo o maior poder de absorver e remover a contaminação.
A figura que ele usou é muito viva. Se ele conseguisse algo assim em seu próprio
caráter e vida, então o que aconteceria? Ora, Deus o submergiria em um fosso imundo
como o único lugar adequado para ele. E mesmo assim, ele mesmo, por baixo de suas roupas, seria mais
sujo do que elas! A contaminação estava em si e não em seus arredores. Sua rejeição
da ideia de alcançar justificação por um processo de aperfeiçoamento próprio não
poderia ser mais decisiva.
Quão evidente é que Jó sabia que ele era
uma criatura pecaminosa diante de seu santo Criador, e que ele não possuía meios
de se tornar justo. Sendo assim, sua única esperança estava na intervenção de um
mediador; mas nenhum mediador, ou “árbitro”,
era conhecido por ele. Seus três amigos não podiam desempenhar o papel, nem qualquer
outro homem, uma vez que o árbitro devia ser grande o suficiente para impor uma de suas mãos
sobre o Deus Todo-Poderoso, e gracioso o suficiente para impor a outra sobre o pobre Jó doente e pecador.
Quão comoventes são as palavras que encerram
este capítulo! Se ao menos houvesse um intermediário eficiente, quão diferente seria;
mas, diz Jó, “assim não é comigo”
(JND). Já agradecemos a Deus com o fervor suficiente de que assim
é conosco? O fato é que,
embora ele não soubesse disso, Jó estava suspirando pelo advento de CRISTO. Agora
podemos nos alegrar no Único “Mediador entre
Deus e os homens, Jesus Cristo Homem” (1 Tm 2:5). Por Ele, o preço do resgate
foi pago, para que seja possível que um homem seja justo diante de Deus.
Mas, para Jó, não havia uma resposta aparente
à sua pergunta; portanto, não estamos surpresos que Jó 10 seja preenchido com suas
palavras adicionais de queixa e tristeza, juntamente com comoventes apelos a Deus.
Ele havia acabado de dizer a respeito de Deus: “Ele não é um homem, como eu sou” (JND), portanto, sabia que não era
nada diante de Seus olhos santos, que sondavam Jó por completo. No versículo 2,
ele pediu a Deus que lhe mostrasse a razão pela qual Ele contendia com ele por meio
dessas catástrofes. No versículo 6, ele novamente admitiu “iniquidade” e “pecado”;
no entanto, no versículo seguinte, ele disse: “Bem sabes Tu que eu não sou ímpio”, usando esse termo evidentemente
no sentido em que Elifaz o usa quando chegamos a Jó 22:15.
No entanto, ele sabia que os padrões de
Deus eram muito mais altos do que os dele, e, portanto, aflição viria sobre ele
se fosse ímpio, e que mesmo se fosse justo, não poderia levantar a cabeça na presença
de Deus. Ele estava cheio de confusão; sua aflição aumentou; mais uma vez ele reclamou
de ter nascido e, quanto ao futuro, não tinha luz. A morte era para ele como “a terra
das trevas”, (ARA) como
vemos nos versículos 21 e 22. Temos que passar para os dias do Novo Testamento para
obter uma palavra como aquela: “já a
verdadeira luz alumia” (1 Jo 2:8).
Ainda hoje existem muitos que consideram
a morte como um “salto no escuro”. E, de fato, é assim para aqueles que
negligenciam ou rejeitam o Cristo que é apresentado a eles no evangelho. Para um
tal, não há desculpa, enquanto para Jó havia toda desculpa. Mais uma vez, afirmamos
que a melancolia deste excelente santo dos tempos do Velho Testamento deveria nos
levar a muitas ações de graças a Deus, que nos tirou “das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9).
Em Jó 11, temos o breve discurso de Zofar,
o terceiro amigo de Jó, e, lendo-o, notamos que o tom dele é um pouco mais severo
até mesmo do que foi o de Bildade. Possivelmente ele estava irritado com o fato
de Jó não ter aceitado as acusações e argumentos dos outros dois, mas estava ultrapassando
o limite e não estava sendo amigável ao acusá-lo com uma “multidão de palavras”, de ser “falador”,
de pronunciar “mentiras” e de zombaria.
Nem ele alegou ser “limpo” aos olhos
de Deus. Zofar ainda não revelou o ponto de vista do qual ele fala, mas verbalmente
declarou que Jó realmente merecia o severo castigo das mãos de Deus que estava recebendo.
Vendo que o sofrimento dele excedeu qualquer outro dos quais temos registrado, e
que a discussão se concentrou nas tratativas disciplinares de Deus nesta
vida, e não olhou para
a eternidade, isso novamente nos parece severo e dogmático ao extremo.
Do versículo 7 em diante, no entanto, ele
disse algumas coisas impressionantes nas quais há verdade, como mostram outras Escrituras.
De fato, é verdade que o homem não pode, por sua busca, encontrar Deus. É igualmente
verdade que o homem, sendo pecador, é “vão”
ou “vazio” ou “falto de entendimento”
e nasce como “a cria do jumento montês”.
Zofar evidentemente sentiu que Jó precisava reconhecer essas coisas, sem muita consciência de como elas se aplicavam
a si mesmo. Se os homens deste século XX[1]
as reconhecessem, isso perfuraria seu inflado orgulho. Eles podem descobrir meios
de destruir vidas humanas às centenas de milhares, mas não podem encontrar Deus.
Ele só pode ser encontrado em Cristo, que O revelou.
As palavras finais de conselho de Zofar
(vs. 13-20) também têm verdade nelas. O versículo 14 diz: “se lançares para longe a iniquidade da tua mão” (ARA); isto é, ele
novamente assume, como os
outros, que, afinal, Jó é um
homem mau, fortemente amarrado aos seus pecados. Aqui ele estava errado, embora
seu conselho de repudiar o mal e se voltar para Deus fosse bom, e sua descrição
do feliz resultado de se fazer isso fosse correta o suficiente.
No capítulo 12, o tom de dogmatismo extremo,
tão perceptível na expressão de Zofar, sem dúvida levou Jó a começar sua resposta
com uma nota bem sarcástica. Suas palavras: “na verdade, que só vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria”,
quase passaram a ser um provérbio, a ser usado contra o dogmatismo da presunção.
Ele alegou ter entendimento igual a seus amigos e, no versículo 5, lembrou-lhes
de que ele, que estava naquele lugar escorregadio, brilhava como uma lâmpada de
advertência, apenas para ser desprezado por aqueles que estavam em circunstâncias
fáceis e confortáveis, como seus amigos estavam.
No versículo 6, Jó desafiou a posição predominante
que seus amigos haviam assumido. Eles afirmaram que Deus sempre recompensa os piedosos
com prosperidade terrenal e inflige tragédia sobre a cabeça dos ímpios. Jó sustentou
que não era assim, mas que havia casos em que os assoladores prosperavam e aqueles
que provocavam a Deus estavam seguros. Como prova disso, ele se referiu ao que podia
ser visto na criação inferior – animais, pássaros e peixes. Ele aludiu, supomos,
à desordem que o pecado do homem introduziu mesmo ali, para que os mais fracos encontrem
tragédia e destruição pelos mais fortes, e tudo isso com a permissão de Deus. Assim
como o paladar prova o alimento, os ouvidos de Jó provaram as palavras de seus
amigos e as considerou inúteis.
Do versículo 13 até o final deste capítulo,
Jó reconsiderou as maneiras de Deus ao lidar com os homens. Ele reconheceu que d’Ele
são “a sabedoria e a força”, assim como
o “conselho e entendimento”. No entanto,
ele sentiu que o exercício de Deus dessas maravilhosas qualidades estava cheio de
mistério. Reiteradamente aqueles que são grandes e sábios – conselheiros, juízes,
reis, príncipes – são corrompidos e rejeitados. Ele viveu nos dias em que, após
o dilúvio, surgiram as nações. Ele tinha visto tal crescimento e depois destruição.
Homens, que haviam sido tão sábios a ponto de se tornarem chefes do povo, subitamente
perdem o entendimento e apalpam no escuro sem luz, ou cambaleiam como um homem bêbado.
Ora, por que isso?
Elifaz havia baseado sua condenação sobre
Jó no que ele próprio havia observado. Bem, Jó também tinha capacidade de observação,
e ele tinha visto todas essas coisas das quais acabara de falar, como afirmou nos
versículos iniciais de Jó 13. Ele não alegou ser superior a seus amigos, mas, de
qualquer forma, não era inferior a eles, mas reconheceu que os tratos de Deus o
confundia, estando muito acima e fora de sua percepção. Portanto, como o versículo
3 indica, o que ele desejava era falar com o Todo-Poderoso e argumentar com Deus,
em vez de gastar seu tempo discutindo com seus amigos.
Ainda assim, lá estavam seus amigos, e
podemos ver que, a essa altura, Jó já havia sido instigado a revidar de uma maneira
mais agressiva. O que ele queria era verdade para sua mente e cura para seu corpo.
Eles eram apenas “inventores de mentiras”
e “médicos que não valem nada”. Ele os
aconselhou a que se calassem e ouvissem o que ele tinha a dizer; e até o versículo
13 ele continuou nesse tom. Ele sentiu que eles conversaram como se estivessem falando
em nome de Deus e, ao fazê-lo, haviam representado a Ele incorretamente. Nisso,
sem dúvida, Jó julgou corretamente.
Nos versículos 14-19, Deus está diante
da mente de Jó ao invés de seus amigos. Podemos discernir dois elementos conflitantes.
Por um lado, havia um notável espírito de fé, que o levou a receber tudo o que havia
acontecido de Sua mão e a não se preocupar com os agentes das calamidades, que haviam
cessado antes que Jó morresse. Ele desejava morrer, e se Deus respondesse a esse
pedido e o matasse, ele não perderia a confiança, mas ainda confiaria n’Ele. Isso
realmente era excelente, mas, ao mesmo tempo, Jó revelou seu real ponto fraco em
sua determinação de “defender” seus próprios
caminhos diante d’Ele. Portanto, vemos que, em um santo verdadeiro, pode existir
uma fé muito verdadeira em Deus, e ainda assim ser prejudicada por uma medida muito
determinada de autoestima. É isso que dá um valor tão grande a este livro notável,
uma vez que a carne em nós, que somos santos hoje, é exatamente a mesma de Jó, cerca
de quatro mil anos atrás.
Assim é que Jó proclamou que Deus seria
sua salvação e que, por fim, ele seria justificado. Mas no versículo 20 ele se dirigiu
mais definitivamente a Deus. Ele aceitou suas tristezas como vindas da mão de Deus
e pediu que Sua mão fosse tirada dele, para que ele pudesse ficar diante d’Ele em
termos mais fáceis. O versículo 23 mostra que, assim que Jó se sentiu estar diante
de Deus, ele reconheceu iniquidade e pecados. Ele desejava saber quantos eram, pois
sentia, como revelam os versículos seguintes, que o castigo que estava sofrendo
ia além do que realmente merecia. Ele era como um homem com os pés no tronco, e,
portanto, um alvo fácil para aqueles que desejavam atirar coisas nele.
Ao lermos suas palavras, não podemos deixar
de nos comover com elas e não ficamos surpresos com seu clamor de lamentação, que
inicia Jó 14. Nos dias longínquos de Jó, a vida humana era talvez três vezes mais
longa do que é hoje; mesmo assim era afinal “de bem poucos dias” e eram dias “cheios de inquietação”, como é hoje, de modo que, visto à luz do Deus
eterno, ele é apenas como uma flor se murchando ou uma sombra passageira. Jó estava
consciente disso em relação a si mesmo e, portanto, sabia que não poderia suportar
a inspeção divina, nem comparecer perante Ele em julgamento. Além disso, ele sabia
que não era limpo aos olhos de Deus, e tinha certeza de que ninguém poderia produzir
o puro daquilo que era imundo.
A tradução de J. N. Darby do versículo
4, coloca a palavra “homem”, em
itálico – “Quem pode tirar um homem limpo dos impuros?” Essa é outra
das tremendas perguntas que Jó faz, e desta vez ele responde – com razão também.
Ninguém pode realizá-lo por si mesmo e muito menos alcançá-lo para os outros. Além
disso, quando nos voltamos para o Novo Testamento, descobrimos que Deus
não Se propõe fazê-lo. O
erro que incomodou os gálatas foi a ideia de que a lei havia sido dada para limpar
os homens e, assim, até os Cristãos deveriam se submeter a ela e aceitar a circuncisão
como sinal dela, a fim de levar uma vida limpa. A palavra enfática que corrige isso
é: “em Cristo Jesus nem a circuncisão é
coisa alguma nem a incircuncisão, mas o ser uma nova criação” (Gl 6:15 – TB).
O crente não é o “velho homem” limpo.
Ele foi novamente criado em Cristo, com uma natureza que, em seu caráter essencial,
“não pode pecar”, como afirmado em 1
João 3:9.
Sendo o homem de poucos dias, sua vida
neste mundo deve terminar na morte, e o tempo em que ele se vai é determinado por
Deus, como o versículo 5 declara. Mas o que aconteceria então? Jó sentiu que era
como um assalariado completando seu dia e desejava que Deus lhe desse descanso até
que chegasse o fim. Mas novamente, o que aconteceria então?
Temos que passar para o versículo 14 antes
de encontrá-lo realmente declarando a terceira tremenda pergunta que ocupou sua mente, mas evidentemente já estava
em
sua mente quando ele iniciou seu argumento no versículo 7. Ele não sabia como
um homem poderia ser “justo” ou “correto” para com Deus. Ele sabia que nenhum
homem poderia produzir o que é puro daquilo que é impuro. E agora vem a pergunta:
“Morrendo o homem, porventura tornará a
viver?” Até agora, neste ponto, nenhuma luz clara e decisiva estava brilhando
diante dele e em seu coração.
Sendo assim, ele começou a pensar no assunto.
Ele usou a analogia de uma árvore que havia sido derrubada quando por muito tempo
sua raiz esteve na terra. Ele viu os anos passarem e o tronco cortado que restara
começara a se deteriorar. No entanto, uma mudança havia chegado. Algo aconteceu,
um tremor de terra talvez tenha rachado as rochas e aberto um novo canal de água
para alcançar suas raízes. Então, como consequência, a árvore morta voltou à vida
e brotou novamente. A esperança de Jó era que algo assim estivesse diante da humanidade.
Evidentemente também era mais do que uma
esperança, pois no versículo 12 ele deduz que os homens “acordarão” e “se erguerão
de seu sono”, mas que isso não iria acontecer “enquanto existirem os céus” (ARA). Como vemos que isso é verdade, quanto
às massas da humanidade que morrem em seus pecados, quando lemos Apocalipse 20:11-15.
Devemos nos lembrar de que o fato de haver a ressurreição dos justos mil anos antes da ressurreição dos
injustos, não havia sido trazido à luz nos
dias de Jó. O versículo 13 torna manifesto que Jó em sua mente relacionava o fato
da ressurreição com a manifestação da ira de Deus, da qual ele desejava se esconder,
e preferia ser lembrado com misericórdia.
As palavras de Jó nos versículos 14 e 15
são muito notáveis. Muitas vezes, podemos ter nos perguntado como a fé de Abraão
abraçou as coisas que estão registradas em Hebreus 11:10 e 16, visto que em seus
dias não havia revelação pública dessas coisas celestiais, no que diz respeito ao
registro da Escritura. Então, foi assim com Jó aqui. Ele reconheceu que tinha um
“horário marcado”, quando sua “mudança”
chegaria; que haveria um “chamado” divino
ao qual ele “responderia”, na medida
em que era uma “obra” das mãos de Deus.
Ao falar assim, ele foi ensinado por Deus, como podemos ver à luz do Novo Testamento.
Paramos para perguntar se alguma vez agradecemos
a Deus de alguma maneira adequada por andarmos à luz da ressurreição de nosso Senhor
Jesus Cristo de entre os mortos? Já demos peso suficiente em nossa alma à declaração
do apóstolo Paulo em 2 Timóteo 1:10, que na tradução de J. N. Darby diz: “nosso Salvador Jesus Cristo, que anulou a
morte e trouxe à luz a vida e a incorruptibilidade
pelas boas novas”. Imortalidade não é a palavra aqui. Acreditava-se nos
tempos do Velho Testamento que a alma do homem sobreviveria à morte e que a ressurreição
aconteceria no futuro, como as palavras de Jó aqui mostram, e como o Senhor deixou
claro na controvérsia com os saduceus de Seus dias. O que não foi feito
conhecido era que, para o santo, a ressurreição significará entrada em uma ordem
nova e incorruptível de coisas. Isso foi demonstrado quando nosso Senhor ressuscitou
dos mortos. Portanto, não precisamos discutir o assunto e raciocinar sobre ele,
como Jó faz aqui. Toda a verdade disso foi claramente revelada.
Assim, Jó tinha uma certa medida de esperança
e expectativa, mas, como mostram os versículos finais do capítulo, tudo estava por
um momento engolido pelas misérias de sua situação de então. Mais uma vez, o discurso
de Jó termina com uma nota melancólica. A última frase do capítulo é: “e sua alma lamenta por si mesmo”.
Não há dúvida de que os excelentes homens
que viveram antes de Cristo viram a morte sob essa luz. Uma exibição impressionante
disso é vista no caso de Ezequias – leia o que ele foi incumbido de escrever, registrado
em Isaías 38:9-14. Ainda não havia amanhecido o dia em que um santo pudesse olhar
a morte contemplando-a face a face e escrever sobre “o desejo de partir e estar com Cristo, pois é muitíssimo melhor”
(Fp 1:23 – TB). Mais uma vez dizemos: quão grande é o privilégio de viver neste
dia do evangelho!
[1]
N. do T.: O autor – Frank Binford Hole – viveu entre
2/2/1874 e 25/1/1964 e este livro foi escrito em meados do século XX.
Nenhum comentário:
Postar um comentário