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Traduzido, publicado e distribuído por Verdades Vivas - verdadesvivas.com.br
Tomando o lugar do “intérprete” dos caminhos de Deus, para
que Jó reconhecesse o que a “retidão”
exigia, Eliú encerrou seu discurso sobre o elevado tema da majestade e da justiça
de Deus, e assim chegou o momento da intervenção divina. Ele é Deus e Todo-Poderoso,
como os versículos finais de Jó 37 declararam: Ele também é Jeová e falou do redemoinho
a que Eliú também havia mencionado.
É notável também que Eliú falou do “estrondo” (cap. 37:2 – TB) ou “rugido” (JND) de “Sua voz”. O vento não é visível; contudo, em movimento violento, os
homens sentem sua pressão e ouvem seu rugido. À medida que o redemoinho se aproximava
e sua pressão era sentida, seu rugido era a voz do próprio Jeová. Suas palavras
foram dirigidas especialmente e somente a Jó. Se o que Ele disse foi inteligível
para os outros, não nos é dito. Colocado face a face com Jeová, Jó teve que reconhecer
que todas as suas muitas palavras haviam entenebrecido e não esclarecido o assunto
em questão.
Se nos referirmos ao início de Jó 23, podemos
nos lembrar de que Jó de maneira autoconfiante havia expressado seu desejo de entrar
em contato com Deus, tendo certeza de que poderia defender sua causa diante d’Ele
e encher sua boca de argumentos e conhecer as palavras pelas quais Deus responderia
a ele. Havia chegado o momento de seu desejo ser cumprido, e Jeová mandou que
Jó cingisse seus lombos como um homem e estivesse preparado para responder à voz
de Deus. Os questionamentos agora devem vir de Deus. Eles começam com o versículo
4.
As palavras de Jeová preenchem quatro capítulos,
com um breve intervalo na abertura de Jó 40. Pergunta após pergunta é proposta para
Jó considerar e responder, se pudesse; e todas dizem respeito ao magnífico poder
que agiu na criação. Mais uma vez, vemos que apenas a revelação original sobre Deus
é assumida. Se, como alguns pensam, foi Moisés quem escreveu este livro, ele escreveu
sobre coisas que aconteceram antes da lei ser dada, ou, pelo menos, sobre esferas
onde a lei não era conhecida. Somos lembrados do que lemos em Romanos 2:12-15, como
observamos que “a obra da lei” foi escrita
no coração de Jó. Jeová julgou Jó à luz do que ele sabia e, ao Ele fazer isso, descobriremos
como a consciência de Jó prestou testemunho e seus pensamentos que o desculpava
começaram a acusá-lo. A lei não torna os homens responsáveis, apenas aumenta a responsabilidade
deles.
Nos versículos 4-38 de Jó 38, o Senhor
afirma Sua própria grandeza e a insignificância de Jó à luz de Seus poderosos atos
criadores. Começou com Ele fundando a Terra, o que ocasionou júbilo entre os seres
angelicais que testemunharam o fato; e então Ele continuou a falar dos mares irrompendo,
embora nas trevas, e então a luz aparecendo para que houvesse uma manhã e uma tarde.
Depois disso, foram mencionadas as maravilhas da neve, granizo e chuva, bem como
as maravilhas exibidas nas estrelas, as constelações e as ordenanças do céu. Não
podemos deixar de nos lembrar da parte inicial de Gênesis 1, até o ponto em que
lemos: “fez também as estrelas” (Gn
1:16 – ARA). O que Jó sabia dessas coisas? Ele havia entrado nas fontes do mar?
Ou os portões da morte se abriram para ele?
Do versículo 38 e até Jó 39, as perguntas
se referem a animais e pássaros, cuja criação está relacionada na parte final de
Gênesis 1. Aqui, novamente, se cuidadosamente consideradas, inúmeras maravilhas
nos confrontam, e foram levantadas questões que Jó não poderia responder.
Assim, nos versículos iniciais de Jó 40,
Jeová desafiou Jó sobre isso e Jó imediatamente se rendeu. Ele reconheceu que tinha
falado demais e que agora o silêncio convinha a ele. Diante de seu Criador, Jó percebeu
quão vil era.
Mas a convicção que agora havia se
apoderado de Jó tinha que ser levada a ele ainda mais profundamente. Por isso, novamente,
ele foi desafiado. Ele havia sido culpado de anular o julgamento de Deus e condená-Lo
para manter sua própria justiça. Este foi realmente um pecado muito grande, e nos
versículos 9-14 ele é julgado da maneira mais perspicaz. Linguagem irônica é usada.
Que ele não contenda com Deus, mas volte sua atenção para os orgulhosos e poderosos
entre os homens, e reprima-os; então se poderia admitir que Jó pudesse se salvar.
Do versículo 15 ao final de Jó 41, o Senhor
faz mais referências às maravilhas de Sua criação. Ele chamou a atenção de Jó para
o beemote e o leviatã – provavelmente o hipopótamo e o crocodilo. Eles tinham força
bruta, mas nenhuma inteligência humana. Seria mais fácil subjugá-los do que derrubar
um homem orgulhoso. Nos dias de Jó, as invenções humanas mal haviam começado, então
isso provavelmente não era tão aparente como em nossos dias, quando essas poderosas
criaturas são facilmente subjugadas – mas, aos homens orgulhosos, não se pode
subjugar tanto assim!
Jó, porém, não podia enfrentar o leviatã
ou o beemote, nem subjugar o homem orgulhoso. Como então ele poderia contender com
Deus? Isso foi poderosamente levado para o fundo do seu coração.
No capítulo 42, a voz de Jeová que
vinha do redemoinho, cessou, e Jó se humilhou em plena medida. Ele confessou o erro
de suas declarações anteriores. Ele teve que se abominar e se arrepender no lugar
da morte – pó e cinzas. Esses momentos na presença de Deus produziram um resultado
que todo o discurso dos três amigos, e até de Eliú, não havia alcançado. O homem,
que era tão excelente entre os homens, e tinha um testemunho do próprio Deus, havia
descoberto sua própria pecaminosidade nas fontes mais profundas de seu ser. Uma
descoberta que todos nós temos que fazer!
A história toda tem uma grande lição para
nós, como percebemos, ao lermos Tiago 5:11. Agora vamos ver “o fim que o Senhor lhe deu” em tudo isso,
o que revela que realmente “o Senhor é
cheio de terna misericórdia e compassivo” (ARA). Qual foi então o fim que o
Senhor tinha em vista, quando permitiu que todas essas provadoras catástrofes viessem
sobre Jó?
Primeiro, ele obteve o que podemos chamar
de conhecimento de Deus em primeira mão. Anteriormente, ele o conhecia pelo “ouvir dos seus ouvidos”; isto é, por tradição.
Mas agora, disse ele: “Te veem os meus olhos”;
isto é, Deus foi apreendido de uma maneira nova e vital. Ele não “viu” em um sentido
literal, como temos certeza em 1 Timóteo 6:16, mas o olho é apenas o órgão da visão
e é a mente que vê. Repetidamente, dizemos: “posso ver”, quando algo, que não atraiu
nossos olhos, aprofundou em nossa mente. Jó agora conhecia a Deus em Seu poder,
santidade, retidão, tanto quanto Ele poderia ser conhecido naqueles dias.
É nosso privilégio conhecer a Deus como
Ele foi revelado em nosso Senhor Jesus Cristo, e por esse conhecimento recebemos
“tudo o que diz respeito à vida e
piedade” e “grandíssimas e preciosas
promessas”, além de receber, dia após dia, “graça e paz”. É o que nos dizem os versículos iniciais da segunda epístola
de Pedro. De fato, podemos dizer que, conosco assim como com Jó, um conhecimento
de Deus em primeira mão e por experiência está na base de tudo.
Mas em segundo lugar, como fruto desse
conhecimento de Deus, Jó se viu sob uma luz totalmente nova. Anteriormente, ele
havia entoado seus próprios louvores. Agora, a retidão de seu comportamento exterior
desapareceu de sua mente, e ele viu as profundezas presunçosas de sua natureza caída.
Por isso, em verdadeiro arrependimento, ele abominou a si próprio.
Esse espírito de julgamento próprio é produzido
em todos os que realmente têm a ver com Deus. Exemplos disso abundam na Escritura.
Por exemplo: quando Abraão se viu na presença de Deus, ele disse: “sou pó e cinza” (Gn 18:27). Da mesma forma,
Isaías disse: “estou desfeito” (Is 6:5
– JND); e Daniel, “transmudou-se o meu
semblante em corrupção” (Dn 10:8). E Pedro diz: “Senhor, ausenta-Te de mim, que sou um homem pecador” (Lc 5:8), e Paulo:
“pecadores; dos quais eu sou o principal”
(1 Tm 1:15). E todos esses eram santos eminentes em seus dias. Eles não teriam sido
eminentes se não tivessem tido tal experiência. Já tivemos essa experiência?
E agora aparece outra característica que,
no final, o Senhor tinha em vista. Os três amigos de Jó foram condenados, pois não
haviam falado corretamente, nem se humilharam como Jó, justificando a Deus e condenando
a si mesmos. Eles foram instruídos a ir a Jó, oferecer sacrifícios e buscar sua
intercessão em favor deles: sem dúvida um processo muito humilhante para eles. Embora
tivessem visitado Jó para se compadecer dele e o consolar, foram levados no progresso
dos argumentos a lançar acusações e censuras contra ele, e ao fazê-lo, desenvolveram
eles mesmos um espírito de justiça própria. Assim, não tendo se humilhado como Jó,
eles foram publicamente humilhados por Deus.
Mas e Jó? O Senhor conhecia bem que uma
revolução completa tinha sido produzida em seu espírito, enquanto ainda seu pobre
corpo estava inalterado. Ele disse: “Meu
servo Jó orará por vós; por ele Eu aceitarei” (JND). Não muito tempo antes,
com calor e sarcasmo, ele havia argumentado contra eles. Agora, com bondade e graça
em seu coração, ele ora por eles! O homem que adquiriu um verdadeiro conhecimento
de Deus e, consequentemente, aprendeu a se abominar, está bastante transformado em suas relações com seus antigos oponentes.
O ressentimento deu lugar à reconciliação. O ganho espiritual disso foi imenso.
Deve ter sido uma cena extraordinária.
O versículo 10 mostra que a mudança na condição corporal de Jó e em sua sorte ocorreu
quando ele orou por seus amigos, e não antes. Ali estavam os três amigos, favorecidos cavalheiros do Oriente com
seus sacrifícios; Jó, numa aparência extremamente emagrecida, coberto de furúnculos.
Contudo, este pobre destroço humano está em contato com Deus e é capaz de levantar
as mãos em intercessão graciosa e sacerdotal. Quando algo assim foi visto no Oriente?
Não é de admirar que a história tenha sido escrita para encontrar um lugar entre
os oráculos de Deus.
Não nos permitamos perder a aplicação de
tudo isso a nós mesmos. Questões de disputa surgem entre aqueles que são irmãos
em Cristo, e se tratadas fora da presença de Deus, o debate pode ser feroz e pode
ocorrer divisão. Que a presença de Deus seja sentida, que o eu seja julgado e abominado,
que um espírito totalmente diferente prevaleça e uma solução correta seja alcançada.
A oração de Jó foi eficaz, já que agora
ele estava correto para com Deus, e não apenas para com seus amigos. Temos a afirmação
definitiva: “O Senhor aceitou a Jó”
(AIBB). O homem que se condenou e se repudiou está em aceitação diante de Deus.
Este sempre foi o caminho de Deus. Encontramos testemunhos disso em outras Escrituras
do Velho Testamento; por exemplo, Isaías 57:15; 66:2. Mas temos que passar para
o Novo Testamento para encontrar a base sobre a qual repousa a aceitação. O caráter da aceitação que temos hoje é encontrado
nas palavras “agradáveis [aceitos – KJV] no Amado” (Ef 1:6). Nos dias de Jó isso não tinha vindo à luz.
Até agora, observamos o que Deus operou
em Jó, como resultado de tudo o que ele havia
passado; agora vemos Deus agindo por ele. Até este ponto, ele foi mantido nas garras da terrível doença
produzida por Satanás. Agora, o Senhor “virou
o cativeiro de Jó, quando este orava pelos seus amigos” (AIBB). A libertação
de seu corpo ocorreu, evidentemente com uma dramática rapidez, quando o objetivo
do Senhor, quanto ao estado espiritual de Jó, foi alcançado, pois para Deus, o espiritual
tem precedência sobre o que é físico ou material. O próprio Satanás foi eliminado
da história no final do capítulo 2. Agora sua cruel aflição foi removida, tendo
sido imposta para alcançar o propósito de Deus.
Nisto, novamente, vemos ilustrado um grande
princípio dos caminhos de Deus. Ele faz com que a malevolência do diabo, assim como
a ira do homem, opere para Seu próprio louvor, assim como para nosso bem. O grande
exemplo disso, ao qual nenhum outro se aproxima, é obviamente a cruz. Para realizar
isso, Satanás entrou em Judas Iscariotes. De tão extrema importância era isso para
ele que não permitiu que nenhum demônio menor agisse por ele. No entanto, ele estava
colaborando para sua própria destruição, pois quando o Senhor Jesus Se referiu à
Sua Cruz, disse: “agora será expulso [lançado fora – JND] o príncipe deste mundo” (Jo 12:31). Outro
exemplo vemos em 2 Coríntios 12, quando “um
mensageiro de Satanás”, enviado para esbofetear Paulo, foi imposto para a preservação
espiritual de Paulo. Quando as aflições vierem sobre nós, lembremo-nos dessas coisas,
e tiremos proveito delas.
Ao contemplarmos “o fim do Senhor” (Tg 5:11 – TB), podemos de fato dizer, como Tiago, que “o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo”. Observamos pelo menos cinco coisas:
Mas agora aparece uma sexta coisa: “o Senhor acrescentou a Jó outro tanto em
dobro a tudo quanto dantes possuía”. Anteriormente, ele era um homem de grande
riqueza, conforme a riqueza era contada naqueles dias, mas agora seus bens aumentaram
a tais proporções que seriam adequadas a um rei. Deus proveu um grande aumento aos
animais que Jó tinha, mas também houve o que lhe veio pelos dons de seus irmãos
e conhecidos. Ele foi restaurado à confiança e estima de todos os que o conheciam
anteriormente: um grande ponto é esse, quando nos lembramos de sua triste queixa
quanto ao tratamento que recebera, registrado em Jó 30.
De acordo com os dias em que ele viveu,
as bênçãos registradas são de um tipo material, que garantiu a prosperidade terrestre
até o fim de seus dias. Essas foram as bênçãos positivas concedidas, assim como
o quinto item, mencionado acima, foi uma bênção de ordem negativa – a remoção de
problemas corporais. Os quatro primeiros itens que notamos foram bênçãos de ordem
espiritual e de uma importância primordial, pois uma vez recebidas, elas permanecem
para sempre. Lembremo-nos de que, como Cristãos, todas as nossas bênçãos são de
ordem espiritual e celestial, como afirma Efésios 1:3.
Tendo passado por essa tempestade sem precedentes,
Jó viveu até a velhice sob o sorriso de Deus, enriquecido espiritual e materialmente.
Viu seus bens, ovelhas, camelos, bois, jumentos, multiplicar-se até o número dobrar.
Seus sete filhos e três filhas muito bonitas cresceram ao seu redor, e assim Deus
lhe deu duas vezes mais do que antes.
Mas e os filhos e filhas? O número deles
não foi dobrado. Eles não deveriam ser quatorze filhos e seis filhas? À medida que
a nova família cresceu à sua volta e depois cessou de crescer, conforme registrado,
podemos nos perguntar se isso suscitou alguma pergunta na mente de Jó, como certamente
acontece na nossa. Sim, afinal de contas, Deus deu a Jó o dobro de tudo o que tinha
antes, sem exceção. Os animais foram visivelmente dobrados, pois a porção anterior
estava irrevogavelmente perdida, e ele nunca mais os veria. Os primeiros filhos
e três filhas não estavam perdidos PARA SEMPRE.
Com relação a esses primeiros filhos e
filhas, Jó tinha estado continuamente preocupado, como o primeiro capítulo do
livro dá testemunho. Atuando como sacerdote de sua família, ele continuamente oferecia
sacrifícios em favor deles. Eles eram exteriormente tementes a Deus; Jó não temia
que eles amaldiçoassem a Deus com os lábios, mas pensava que pudessem ter feito isso
no
coração. No entanto,
apesar disso, a vida de todos eles foi tirada juntamente num momento. Assim, dessa
maneira impressionante, foi sugerido que existe outro mundo no qual o espírito deles
havia entrado, que a ressurreição, sobre a qual Jó havia argumentado e debatido
em Jó 14, seria alcançada no devido tempo e que Jó os encontraria novamente.
Não nos é dito em muitas palavras, de que
tudo isso era claro para Jó, mas assumimos que Deus, que tão gentilmente deu essa
indicação, deu a ele a capacidade de percebê-la. Isso deve ter confirmado sua fé
na ressurreição, por um lado, e confortado seu coração, por outro. Confiamos que
isso tenha trazido conforto ao coração de muitos mais além de Jó. Quando cheio de
dias, Jó terminou sua longa vida, ele deve ter olhado para trás para esse período
de provas inigualáveis, pelo qual teve que passar, como sendo apenas um túnel escuro
que conduz à luz do Sol; um período de calamidade exterior, mas de enriquecimento
interior. Uma Escritura tal como Ezequiel 14:14 presta testemunho de que isso
foi assim. Ele é apresentado como um brilhante exemplo, juntamente com Noé e Daniel.
Ao encerrarmos nossos comentários
sobre o livro de Jó, podemos fazê-lo com um canto de louvor e ação de graças em
nosso coração, e também tendo, acreditamos, aprendido algumas lições necessárias.
Podemos não sofrer na intensidade em que Jó sofreu, mas nenhum de nós escapa à mão
corretora de nosso Deus e Pai. Quando formos castigados, possamos ser exercitados
por isso; e quando observamos castigo vindo sobre os outros, tenhamos cuidado com
a forma como o interpretamos.
À luz do Novo Testamento, o castigo pode
ser enviado para retribuição, como
paga pelo mal praticado como
vemos em 1 Coríntios 11:30. Mas, por outro lado, pode não ser com esse objetivo,
como vemos no caso de Paulo – 2 Coríntios 12:7 –, onde o espinho na carne era
algo para prevenção; para que ele
não se exaltasse e caísse. Mais uma vez, pode não ser retributivo nem preventivo,
mas educacional, como
mostra Hebreus 12. O Pai treina e disciplina Seus filhos e até os açoita; mas tudo
é em busca de Seu objetivo – “para
sermos participantes de Sua santidade”.
Nessa direção, Jó foi guiado, como vimos.
Nessa direção, nós também estamos sendo guiados em todos os tratamentos do Pai conosco.
Lembremo-nos sempre disso, e louvemos a Deus que é assim.
Após o silêncio ter caído sobre todos os
quatro participantes, um novo orador apareceu e ele também é apresentado a nós de
uma maneira que mostra que estamos considerando uma história e não um romance. Ele
era descendente de Buz, sobrinho de Abraão, como mostra Gênesis 22:21. Nos primeiros
dias após o dilúvio, quando a população era pequena, a duplicação de nomes não seria
comum.
Agora Eliú é um nome com um significado
que é dado a nós como “o próprio Deus”. Se tivermos isso em mente, e depois lermos
o versículo 6 de Jó 33, veremos que ele interveio para desempenhar o papel de mediador,
e assim se tornar uma figura – embora fraca – do verdadeiro Mediador, o Senhor Jesus
Cristo, Quem é o próprio Deus.
Eliú era verdadeiramente um homem, formado a partir do pó da terra e ficou
diante de Jó em nome de Deus, de acordo com o desejo que Jó expressou em Jó 9:33.
Em Jó 32 temos, como podemos chamar de
desculpas de Eliú por haver falado. Como um homem muito mais jovem, ele se contentara
em ouvir todos esses discursos controversos e, como resultado, se irou contra os
quatro. Jó se justificou sem justificar a Deus, enquanto os outros condenaram Jó
sem poder responder a seus argumentos. Ele reconheceu que normalmente os homens
deveriam aumentar em sabedoria e entendimento à medida que aumentavam em idade,
mas nem a grandeza de reputação nem a idade garantiam isso, pois a sabedoria realmente
chega ao homem por meio de seu espírito e como fruto da “inspiração” ou “assopro”
(TB) do Todo-Poderoso. Se os três amigos tivessem conseguido convencer Jó, teriam
se orgulhado de sua própria sabedoria; mas somente Deus poderia fazer isso. As palavras
finais do versículo 13 foram traduzidas: “Deus
o fará ceder, não o homem” (JND).
Eliú também tinha a vantagem que ele mencionou
no versículo 14. Ele não tinha estado envolvido na guerra de palavras, portanto,
ele podia ver tudo com imparcialidade e falar de uma maneira que não seria lisonjeira
para nenhum dos competidores. Além disso, tendo ouvido tudo o que havia sido dito,
ele estava tão informado quanto ao assunto que precisava encontrar uma saída e
deixar que isso se extravasasse de si mesmo.
Assim, nos versículos iniciais de Jó 33,
encontramos Eliú fazendo duas reivindicações. Primeiro, ele afirma que suas palavras
serão marcadas pela retidão e pureza, como convém a alguém que tem sua
existência e vida procedentes de Deus. Segundo, que embora ele falasse em nome de
Deus, ele próprio era um homem “formado do
barro” (ARA), assim como Jó era, e, portanto, embora Jó tivesse dito de Deus:
“não me amedronte o Seu terror” (Jó 9:34),
o que Eliú tinha a dizer, ao interpretar os caminhos de Deus, não traria qualquer
terror ao espírito de Jó. Assim como nosso Senhor Jesus Se tornou um Homem, trazendo
Deus para nós sem qualquer sensação de terror.
No versículo 8, Eliú começou a desafiar
Jó de uma maneira direta. Ele tinha ouvido o que Jó tinha sustentado, e ele resumiu
tudo como sendo um repúdio a qualquer acusação contra ele quanto à transgressão
e iniquidade, que necessariamente envolvia, direta ou indiretamente, uma acusação
contra Deus de haver tratado duramente, senão até mesmo com injustiça. Assim, resumindo
toda a posição, pensamos que podemos ver que Eliú não estava muito errado. Sendo
o mundo como ele é e o que é, se a perfeição for reivindicada pelo homem, obviamente
todo o mal que existe deve ser atribuído a Deus.
Em resposta a Jó, o primeiro ponto de Eliú
é a suprema grandeza de Deus. Portanto, lutar contra Ele é inútil. É o homem que
deve prestar contas a Deus, não Deus prestar contas ao homem. Nos dias de hoje,
nunca esqueçamos isso.
Mas então, em segundo lugar, embora Deus
não tenha de prestar contas de Seus assuntos, Ele fala ao homem, embora muitas vezes
o homem não o perceba. E, tendo afirmado isso, ele passou a indicar maneiras pelas
quais Deus assim fala. Ele pode falar em um sonho ou uma visão. Ele o fez muitas
vezes, como registra a Escritura, e evidentemente Ele o faz ainda, particularmente
com santos simples, que conhecem pouco da Bíblia e possivelmente possuem pouco da
Bíblia em sua língua nativa. Onde os santos são instruídos na Bíblia e pela
Bíblia – uma forma superior de orientação – os sonhos, nos quais Deus fala, são
comparativamente raros. E, se Deus fala com um homem em sonho: qual a
finalidade disso? Para alterar seu curso e humilhar seu orgulho no pó. Uma palavra
salutar para Jó; e para todos nós.
Deus também pode falar com um homem, concedendo-lhe
alguma libertação misericordiosa quando ele é ameaçado por desastre ou guerra. Isso
é mencionado no versículo 18, e muitos de nós podemos recordar ocasiões em que recebemos
misericórdia desse tipo, e ficamos conscientes de que Deus tinha algo a nos dizer
nisso.
E mais uma vez, Deus pode falar por meio
da dor e da doença, que são descritas de maneira tão vívida nos versículos 19-22,
até que o sofredor seja confrontado com a própria morte. Podemos ver como a descrição
de Eliú a esse respeito se encaixava exatamente no caso de Jó, e de fato em não
poucos de nós, embora no nosso caso não tenham sido tão extremo quanto o de Jó.
Quantas vezes um pecador descuidado, quando ferido assim, foi levado a se voltar
para Deus e despertado para sua salvação eterna. Quantas vezes um santo teve que
olhar para trás para um período de doença grave como uma ocasião de muitas bênçãos
espirituais.
Esses momentos de emergência são oportunidades
aos quais Eliú chamou de um “mensageiro”,
um “intérprete” (cap. 33:23), que podem
mostrar o que Deus tem a nos dizer por meio dessas coisas. Embora não sejam comuns,
como bem sabemos, são de grande valor e Eliú os chamou de “um entre milhares”, o que indica raridade. Pode haver muitos que possam
se compadecer e às vezes condenar o aflito, assim como fizeram os três amigos de
Jó. Apresentar a mente de Deus é outra coisa e é algo maior.
Quando o intérprete chegou, o que ele tinha
a dizer? Ele mostra para o homem que sua retidão é, obviamente, julgar a si mesmo
e, portanto, honestamente tomar seu lugar diante de Deus como um que confessa a
si mesmo como pecador. Isto Jó ainda não havia feito, mas é para isso que ele foi
levado quando o final da história foi alcançado. É o fim que todos nós devemos alcançar
se nos importamos com Deus. Alcançamos todos nós isso?
Quando esse ponto é alcançado, qual é o
resultado? Uma exibição de graça da parte de Deus, resultando em libertação para
que o homem não desça à cova, e isso, porque o próprio Deus havia encontrado um
resgate. A palavra traduzida como “resgate”
aqui significa simplesmente “cobertura”, semelhante à palavra traduzida como “expiação”
no Velho Testamento. Antes de Cristo vir, Deus cobriu diante de Seus santos olhos
o pecado do pecador arrependido, esperando o tempo em que toda a propiciação deveria
ser feita no sacrifício todo-suficiente de Cristo. Daí a palavra sobre “remissão dos [passagem por sobre os – JND] pecados
dantes cometidos, sob a paciência de Deus” (Rm 3:25). Esses pecados dantes
cometidos foram os dos santos antes de Cristo; Jó está entre eles.
O versículo 25 tem uma referência especial
ao caso de Jó; mas os versículos 26-30 têm uma ampla aplicação. O pecador resgatado
está diante de Deus em justiça e com gozo e, como mostram os próximos versículos,
ele pode confessar alegremente tanto seu pecado quanto sua libertação diante dos
homens. As palavras de Eliú aqui foram instruções para Jó, projetadas para levá-lo
a uma confissão honesta diante de Deus. Elas são igualmente verdadeiras para nós,
e isso de uma maneira muito mais ampla e perfeita, quando olhamos para trás,
para a obra completa de Cristo.
Nessas palavras notáveis, Eliú certamente
estava representando o papel do intérprete para com Jó, mostrando qual é o bom desígnio
de Deus em Seus tratos, aparentemente tão adversos para os homens. Ele pretende
libertá-los da “cova” da autoestima e
complacência nesta vida, e da “cova”
do julgamento e condenação na vida futura. Tendo interpretado os caminhos de Deus
até agora, Eliú evidentemente interrompeu sua fala para ver se naquele momento havia
algo que Jó desejava dizer.
Não havendo resposta da parte de Jó, Eliú
retomou seu discurso e, como Jó 34:2 indica, tinha um público maior em vista. Ele
se dirigiu também aos três amigos e a outros espectadores, desafiando-os se eles
tinham a sabedoria e o conhecimento que lhes permitissem provar as palavras: e escolher
o que é bom e certo. Ele sabia muito bem que o efeito do pecado é perverter o julgamento
do homem e cegá-lo quanto ao que é correto.
Tendo em vista a audiência maior, Eliú
começou a falar sobre Jó, e não a
Jó, como havia feito anteriormente. Não parece que Jó tenha dito: “Eu sou justo”,
em tantas palavras; isso ele tinha dado a entender cantando seus próprios louvores,
da maneira como registrada em Jó 29. Mas, voltando a Jó 27:2, notamos que ele definitivamente
disse: “vive Deus, que me tirou o direito”
(ARA). Daí a atitude dele claramente era: “Devo
mentir contra o meu direito?” (Jó 34:6 – JND)
Seu “direito” era, como sustentava, ser livre dessas calamidades e não pretendia
dizer o contrário. Sua ferida realmente parecia incurável, mas ele sustentava que
ela não foi provocada por nenhuma transgressão de sua parte. Os versículos 5 e 6
resumem a posição de Jó, como Eliú as viu. Ele não alegou estar sem pecado, mas
afirmou que não era culpado de nenhuma transgressão que justificasse Deus impor-lhe
tais aflições. Na verdade chegou ao ponto em que ele estava certo e Deus estava
errado.
Eliú agora mostra que em tudo isso Jó realmente
se aliou aos ímpios. Jó poderia beber o desprezo dos homens como água, mas não conseguia
fazer o mesmo com relação ao julgamento de Deus. Eliú afirma a perfeição absoluta
e a retidão de todos os caminhos de Deus; uma questão da maior importância, pois
Ele é supremo em toda a Terra. Ele tem “o
governo da Terra”, de modo que tem “autoridade
sobre todo o mundo” (AIBB). O versículo 14 diz: “Se Deus pensasse apenas em Si mesmo e para Si recolhesse o seu
espírito e o seu sopro” (ARA); então o resultado seria que toda a carne expiraria
juntamente e o homem retornaria ao pó. Tal é a grandeza, bem como a retidão de Deus.
Daí o argumento dos versículos seguintes.
Deveria o governo estar nas mãos dos injustos? E se está nas mãos do TODO-Justo,
aquilo que Ele ordena deve ser desafiado? Os homens não falavam assim dos reis ou
príncipes. Então muito menos deveriam falar assim de Deus. O que Ele ordena está
correto.
Eliú passa a falar do esquadrinhador julgamento
de Deus, que é absolutamente imparcial, estimando os ricos tanto quanto os pobres.
Além disso, “não há trevas nem sombra de
morte”, onde aqueles que praticam o mal possam se esconder. Ele continuou afirmando
que os julgamentos de Deus são sempre corretos e que Ele age como Lhe parece bem
aos Seus olhos, quebrando em pedaços e derrubando homens poderosos, mas, por outro
lado, ouvindo o clamor dos aflitos. Ele pode dar tranquilidade aos aflitos e quem
pode perturbá-la? Ele pode esconder o Seu rosto dos ímpios e quem pode vê-Lo? E
isso é verdade seja em relação a uma nação ou apenas um indivíduo.
O restante deste capítulo é mais diretamente
uma palavra para Jó. Teria sido mais conveniente se ele aceitasse humildemente o
castigo, admitindo que havia iniquidade em si mesmo, da qual era ignorante, e quanto
a isso ele precisava que Deus o ensinasse, para que corrigisse o que estava errado.
Em vez disso, ele havia desafiado o julgamento de Deus em favor do seu próprio
pensamento e, ao fazê-lo, havia acrescentado ao seu pecado, a rebelião contra Deus.
Em Jó 35, parece que Eliú interrompeu
sua fala novamente e, sem resposta, ele continuou a expor o desvio dos argumentos
de Jó. Ao alegar que não havia cometido nenhum pecado que exigisse suportar os extremos
sofrimentos que haviam vindo sobre ele, Jó elevou sua própria justiça acima da
de Deus e concluiu que não havia proveito em uma vida de piedade. A resposta para
isso seria proveitosa para os companheiros de Jó e para ele próprio.
A resposta que Eliú deu foi baseada na
suprema grandeza de Deus como Criador. Eliú não podia ir além
disso, mas esse conhecimento
ele tinha em comum com todos os homens após o dilúvio. Desse conhecimento
primordial, a massa da humanidade logo se afastou, como declara Romanos 1:20-21.
No entanto, os homens que ouvimos neste livro foram exceções a essa triste regra,
e eles mantiveram esse conhecimento e argumentaram a partir dele.
Deus estava muito acima de Seus céus, e
tão grande que nada de errado, cometido por um insignificante homem, poderia feri-Lo,
e nada que fosse correto poderia acrescentar algo a Ele. Nossos erros podem causar
danos aos nossos semelhantes, e nossas ações corretas podem ser proveitosas para
eles. E se erramos para com nossos companheiros, eles reclamam, mas Deus é esquecido.
Ninguém pensou em Deus, que é Criador, e que pode elevar o espírito e dar salmos
mesmo na noite de tristeza.
O Deus, que dá as canções durante a noite,
ensina o homem a quem Ele fez; seres de uma ordem muito superior à dos animais e
pássaros, capazes de ter relacionamento com Ele, seja em canções de gozo ou em clamores
de necessidade. O versículo 10 menciona as canções e o versículo 12 os clamores.
E por que os homens clamam e ainda não recebem resposta? A resposta é: por causa
do orgulho; e
no versículo 13, Eliú diagnostica a causa raiz de tudo isso como sendo vaidade, que é abominável para Deus, algo que
Ele desconsidera completamente. Esta instrução não é para nós? Não vemos aqui uma
explicação de muitos clamores e orações sem resposta?
Eliú disse essas coisas a fim de levar
o assunto ao coração de Jó, como ele fez no último versículo do capítulo. Jó abriu
a boca “em vão” ou “em vaidade” (JND) e, portanto, embora suas
palavras tivessem sido abundantes, tinham sido sem conhecimento. A excelência da
vida exterior de Jó o traíra em um espírito interior de vaidade, que estava na raiz
de sua falta de um verdadeiro conhecimento de si mesmo. Veremos que o próprio Jó
confessou isso, quando chegarmos ao capítulo 42:3.
Mais uma vez, parece que Eliú fez uma pausa
por um momento para ver se Jó tinha alguma resposta a dar, mas não havendo resposta
alguma, ele retomou seu discurso cuja conclusão ocupa os capítulos 36 e 37. Eliú
começou dizendo que ainda tinha palavras a dizer da parte de Deus; e, ao lermos
esses dois capítulos, notaremos que ele tinha pouco mais a dizer a Jó sobre suas
declarações, mas preferiu falar sobre a grandeza e poder de Deus e em Seus justos
tratos com os filhos dos homens. Eliú disse: “ao meu Criador atribuirei a justiça”.
Ele passou a exaltar a maneira pela qual
Deus, que é perfeito em conhecimento, trata tanto com os iníquos quanto com os justos.
Deste último, Ele não retira Seus olhos; isto é, Ele os mantém sempre sob observação
e, finalmente, os exalta como reis. Contudo, antes que esse final feliz seja alcançado,
Ele pode permitir que eles sejam “presos
em grilhões” e “amarrados com cordas
de aflição”, exatamente como o pobre Jó naquele momento. E, se Ele permite isso,
é com um propósito, como é mostrado nos versículos 9-11. Observe que são os justos
que são tratados, pois mesmo um Abraão ou um Jó, embora justos, não eram sem pecado,
e os procedimentos disciplinares de Deus são exercidos para tais, e não para aqueles
que excluem Deus de sua vida.
Os argumentos dos três amigos levaram à
conclusão de que Jó não era um homem justo. Eliú parece preferir admitir que ele era
justo, e que, porque era, Deus havia permitido que essa severa disciplina viesse
sobre ele; e no versículo 16 ele aplica o que está dizendo a Jó, pois, afinal de
contas, o profundo orgulho e vaidade do coração humano é a maior de todas as
ofensas.
O versículo 18 foi endereçado a Jó. Devemos
lembrar de que naquele dia distante, quase dois milênios antes de Cristo aparecer,
a vida e a incorruptibilidade não haviam sido trazidas à luz, como mostra 2 Timóteo
1:10; e, portanto, uma salvação eterna não era conhecida como a conhecemos agora.
Se hoje citássemos esse versículo, deveríamos fazê-lo para um incrédulo.
A advertência de Eliú a Jó, no entanto,
foi oportuna, particularmente o versículo 21. Ao se afastar da “aflição”, Jó se declinou para a “iniquidade” de sustentar sua própria justiça.
Mas a aflição deve ser preferida à iniquidade, como somos lembrados na primeira
epístola de Pedro – “aquele que sofreu na
carne deixou o pecado” (Pe 4:1 – ARA). Os primeiros Cristãos podiam escapar
do sofrimento ao pecarem, e assim nós também, se for apenas uma questão do que pode
vir sobre nós do mundo, da carne ou do diabo.
Tendo avisado Jó, Eliú voltou a se concentrar
na grandeza de Deus, como evidenciado na criação, e o resto de seu discurso gira
em torno desse tema. Particularmente ele considerou o controle exercido pelo Criador
naquilo que está totalmente fora do controle do homem – as nuvens, os ventos, os
trovões, os raios, a chuva, a neve, a geada. Quando essas coisas vieram à sua mente,
ele teve que confessar que seu coração tremia e estava profundamente comovido.
Em nossos dias, os homens fizeram muitas
descobertas e ganharam certo controle sobre alguns dos misteriosos poderes que há
na maravilhosa criação de Deus, mas as coisas que Eliú mencionou não se podem dominar.
Quando, como ele colocou no versículo 9, “da
câmara do Sul sai o tufão, e do Norte o frio” (TB), o homem mais inteligente
só pode aceitar a situação e procurar abrigo ou se aquecer, conforme o caso.
Eliú reconheceu que Deus ordenou o tempo
com um propósito sábio, e o que Ele envia pode ser “para correção”, isto é, disciplina sobre más ações; ou “para Sua terra”, isto é, para manter a
produtividade comum da terra; ou “por beneficência
[misericórdia – ARA]”, isto é, efetuar alguma libertação misericordiosa.
Isso também teve influência no caso de Jó.
Jó não sabia, e nenhum de nós sabe, como
Deus exerce Seu poder supremo. O Senhor Jesus demonstrou o poder da Sua divindade
quando acalmou o vento e as ondas no lago da Galileia. Ele fez isso com misericórdia.
Eliú terminou suas palavras com a afirmação de que com Deus, o Todo-Poderoso, há
“uma tremenda majestade” e todos os Seus feitos são em justiça. Portanto, por mais sábio que qualquer
um de nós – incluindo Jó – possa se considerar, nossa atitude diante d’Ele não deve
ser a de críticas e questionamentos, mas a de temor.
A maneira franca de Jó contar a seus amigos
que o conforto que eles ofereciam era falso e sem valor, naturalmente levou Elifaz
a começar seu terceiro discurso com uma nota ainda mais amarga. Jó certamente estava
defendendo seu próprio caráter, mas conferia isso algum proveito ou benefício ao
Todo-Poderoso pela justiça e perfeição que Jó alegava? E Deus entraria em julgamento
com Jó como se ele fosse igual a Ele? Só poderia haver uma resposta para essas perguntas,
e seria salutar que Jó percebesse qual era. Como nosso Senhor disse a Seus discípulos,
a confissão de todos nós deve ser: “Somos
servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17:10).
Mas, tendo proferido essas sábias palavras,
Elifaz mergulhou em uma série de acusações contra Jó, que, à luz do testemunho que
Deus prestou a ele no início da história, devem ter sido totalmente infundadas.
Essas acusações enchem os versículos 5 a 9 e, lendo-os, podemos ver o que provocou
Jó a cantar seus próprios louvores, como ele faz em Jó 29. Elifaz não se ocupou
de vagas insinuações, mas afirmou o erro de Jó em relação aos necessitados, aos
nus, aos cansados, aos famintos, aos viúvos e órfãos. Em Jó 29, Jó refuta essas
coisas e é igualmente explícito ao declarar quão bem ele havia agido para com essas
mesmas pessoas.
No versículo 13, Elifaz supõe que o mal
tinha sido essencialmente em segredo e que Jó assumiu que Deus não conhecia sua
impiedade – outra suposição falsa. Nos versículos 15-18, temos uma referência ao
dilúvio. Jó acabara de falar de homens iníquos, que disseram a Deus: “Retira-Te de nós”, e aqui Elifaz pergunta
se ele realmente se preocupara com isso, como mostrado no mundo antediluviano. O
que os homens fizeram depois do dilúvio, quando mergulharam
na idolatria, foi exatamente o que havia sido feito antes do dilúvio.
Elifaz tem toda a razão em dizer que a raiz de toda a terrível maldade dos
homens era o afastamento de Deus e por terem excluído a Ele de sua vida e pensamentos.
Nesse ponto, podemos muito bem fazer uma
pausa e considerar nossa própria época. A afirmação de Jó no capítulo anterior era
que, como frequentemente acontecia, quando Deus permitia que homens iníquos
prosperassem, eles desejavam que Deus se afastasse deles, pois não desejavam Seus
caminhos. Agora, Elifaz afirmou que os homens maus do passado excluíram Deus de
seus pensamentos e de sua vida, e foram destruídos pelo dilúvio. O argumento de
Jó era que Deus frequentemente favorecia os ímpios e o julgamento deles só chegava
ao final, enquanto Elifaz insistia que Deus intervinha em julgamento, como o dilúvio
havia testemunhado. Parece que ambos estavam certos, e em nossos dias podemos ver
os resultados desagradáveis nos homens que excluíram Deus de seus pensamentos e
de sua vida. Se Deus é assim colocado fora, todo tipo de mal entra.
Quão verdadeira é, portanto, a exortação
de Elifaz no versículo 21. O conhecimento de Deus realmente leva à paz e ao bem
como resultado final, mas no princípio leva à profunda inquietação e problemas,
como Jó teve que enfrentar. Antes de alcançar o bem, registrado no final do livro,
ele teve que experimentar a angústia do julgamento próprio – ver Jó 40:4 e 42:6.
No entanto, por trás deste versículo e
também dos seguintes, está a antiga suposição de que Jó não conhecia a Deus, de
que estava longe d’Ele e de que precisava voltar e se afastar de sua iniquidade,
pois isso estava trazendo todo esse castigo sobre ele, e, assim, encerrou com uma
descrição brilhante de todas as vantagens que Jó teria se o fizesse. O último versículo
diz: “E livrará até ao que não é
inocente” e, em suas palavras finais, Elifaz parece afirmar que, se Jó pelo
menos tivesse mãos limpas ele livraria outras pessoas, assim como a si mesmo.
O próximo discurso de Jó ocupa os capítulos
23 e 24, e é notável por ele não fazer referência direta ao que Elifaz acabara de
expor.
Jó 23 tem a natureza de um lamento com
uma grande dose de tristeza. Aqui ele estava cheio de amargas queixas, mas sentindo
que o peso do golpe que caiu sobre ele estava além de qualquer gemido que tivesse
proferido. O golpe veio de Deus, mas ele não sabia onde Ele estava nem como poderia
encontrá-Lo. Se ele pudesse encontrá-Lo e expor sua causa diante d’Ele, ele sentiu
que o alívio viria e que seria libertado – o versículo 7 diz: “Ali o reto pleitearia com Ele, e eu me
livraria para sempre do meu Juiz”. Assim, mais uma vez, Jó assumiu sua própria
retidão, e sua queixa era que estava sendo afligido pelo Todo-Poderoso, a Quem ele
não podia alcançar e em cuja presença ele não podia entrar.
No entanto, Jó ainda tinha confiança, como
mostra o versículo 10, que Deus conhecia todo o caminho de sofrimento que ele estava
trilhando, que nisso estava sendo provado e que, como resultado, sairia como ouro
no final. Na verdade, esse foi o fim alcançado, mas, suspeitamos, não da maneira
como Jó esperava. Até o momento, cheio de confiança em sua justiça própria, ele
esperava ser aprovado por Deus. Ele saiu como ouro, mas como fruto de sua humilhação
no seu julgamento próprio diante de Deus, e então ele foi elevado e abundantemente
abençoado.
O versículo 12 é impressionante e frequentemente
citado. Mas as palavras traduzidas “o
meu alimento” são literalmente “a minha
porção” (ARF). A tradução de J. N. Darby diz: “o propósito do meu próprio coração”. Lendo assim, podemos muito bem
desafiar nosso próprio coração se estamos preparados para deixar de lado nossos
próprios propósitos pela sujeição às palavras de Deus.
O primeiro versículo de Jó 24 apresenta
uma questão, cuja força exata não é facilmente discernida. Mas parece que, no restante
do capítulo, Jó está recontando os males que enchiam a Terra em seus dias, que continuavam
sem julgamento até que o túmulo fechasse a história dos ímpios, dando sentido e
força à pergunta que ele fez. Sendo assim, a última parte do versículo 1 significaria:
“Por que os que temem a Deus não veem dias de Seus juízos caindo sobre as cabeças
dos ímpios?” Uma pergunta muito pertinente, semelhante à que foi levantada no Salmo
73. No final do capítulo, Jó, assim como o salmista, vê o julgamento finalmente
chegando sobre os ímpios. Mas, vendo que isso não acontece agora, Jó desafiou todos
os que se achegavam a refutá-lo e provar que ele era um mentiroso.
Pela terceira vez, Bildade falou, conforme
registrado em Jó 25. Tal como Elifaz, assim aconteceu como Bildade, cada discurso
era mais curto que o anterior, mostrando que seus poderes de compaixão, como também
de argumentação, estavam se esgotando. Além disso, parece haver pouca referência
às declarações de Jó no que Bildade disse. Sua descrição da grandeza e glória de
Deus é bela e quase poética, e o que ele diz sobre o pecado, a impureza e a insignificância
do homem, que é como um verme diante de seu Criador, é igualmente verdadeira. Mas
ele só pôde reiterar a pergunta que Jó fez em Jó 9, “Como seria justo o homem perante Deus”, sem fazer qualquer tentativa
de responder ou expressar o desejo de um mediador, como Jó havia desejado. Para
Bildade, esta era uma pergunta irrespondível, e talvez achasse que ela desse algum
tipo de desculpa para o pecado, com o qual ele e seus amigos tinham estado acusando
o desventurado Jó.
Isso levou Jó a abrir a boca pela nona
vez, em um discurso mais longo que todos os outros. Como seus argumentos contra sua acusação estavam falhando,
suas justificativas para sua defesa aumentaram.
As breves palavras de Bildade foram de um tipo mais brando, mas antes que Jó mostrasse
que também poderia falar em termos brilhantes da grandeza de Deus, ele se entregou
aos sarcasmos que enchem os versículos 2 e 3 de Jó 26. Para nós, parece óbvio que
os discursos dos amigos não foram úteis, nem salvadores, nem sábios, mas Jó, sendo
humano, não perdeu a oportunidade de lançar essas provocações contra eles. Outras
versões traduzem as palavras iniciais do versículo 4, “Para quem”, em vez de “Por Quem”
(JND). Isso significaria que Jó desejava que eles se lembrassem de que, embora
as palavras deles tivessem sido dirigidas a ele, eles realmente estavam falando
na presença de Deus e, além disso, falando num espírito incorreto.
A descrição de Jó quanto ao poder criador
de Deus é impressionante. O versículo 7, em particular, mostra como esses santos
do passado, vivendo no temor de Deus, até onde Ele tinha sido então revelado, tinham
um conhecimento simples e verdadeiro das coisas criadas, muito distantes das ideias
fantásticas acolhidas, mesmo pelos eruditos, quando a mente havia se obscurecido
ao se afundar na idolatria.
Ele sabia que Deus tinha operado pelo Seu
Espírito ao adornar os céus, o que os incrédulos instruídos dificilmente admitiriam
hoje; e, ao mesmo tempo, ele estava consciente de que o que se sabia em seus dias
era apenas uma parte de Seus caminhos, e seu comentário foi: “Que sussurro de uma palavra ouvimos d’Ele!”
(JND) Deixe esse comovente clamor de Jó se aprofundar em nosso coração. Ele tinha
apenas um “sussurro de uma palavra” quanto
a Deus. Israel sabia algo do “trovão de Seu
poder”, quando no Sinai, por meio de Moisés, a Lei foi dada. Temos o grande
privilégio de conhecer e desfrutar da “graça
e verdade” que veio por Jesus Cristo, e ainda mais de andar na luz “do conhecimento da glória de Deus, na face
de Jesus Cristo” (2 Co 4:6). Podemos muito bem dar graças a Deus, que nos tirou
das trevas para Sua maravilhosa luz.
Que testemunho impressionante temos neste
livro – um dos mais antigos do mundo – de fatos que se destacam claramente no Novo
Testamento. Aqui estão os santos patriarcais, vivendo apenas alguns séculos após
o dilúvio, com um conhecimento de Deus de acordo com a revelação primitiva de Si
mesmo. Os homens não evoluíram do paganismo para o conhecimento de Deus, mas o contrário.
Como Romanos 1 diz: “Porquanto, tendo
conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus” e novamente: “como eles se não importaram de ter conhecimento
de Deus, assim Deus os entregou...”.
Por mais que Jó fosse obstinado em sua justiça própria e seus amigos em seus pensamentos,
eles não excluíram Deus de seu conhecimento. Ele estava muito presente nos pensamentos
deles.
As palavras iniciais de Jó 27 indicam que
nesse momento Jó se deteve, esperando que Zofar falasse; e, aparentemente, ele se
deteve novamente no final de Jó 28. Mas nenhuma resposta foi dada. Isso não surpreendeu,
pois o homem que baseia sua posição na intuição tem uma esfera de
argumentação muito restrita. O homem que argumenta a partir de sua própria observação
pode ter um amplo campo de visão e, portanto, muito a apresentar. Assim também
é o homem que investiga a história passada e argumenta com base na tradição. Mas o homem que argumenta apenas sobre
o que pensa, com as ideias que ele intuitivamente formou, poderá argumentar com
grande força em sua presunção própria; mas se seus pensamentos forem refutados,
não há muito mais que ele possa dizer.
Assim Jó retomou seu discurso, tocando
num assunto muito solene, como fazendo um juramento diante de Deus. Ao afirmar sua
própria integridade e verdade, ele acusou seus amigos de serem os que falavam falsidade
e engano, enquanto ele mantinha firme sua justiça com a máxima determinação. Essa
“justiça”, como Jó 29 nos mostrará, estava
relacionada com sua conduta exterior, pois a luz perscrutadora de Deus ainda não
havia penetrado na alma de Jó. Ele havia sido acusado de ser um enganador e um hipócrita.
Ele sabia que não era isso e não se declararia culpado nem por um momento. Também
sabemos que ele não era culpado, mas a retidão exterior por si só não serve
como justiça na presença de Deus. As próprias palavras de Jó aqui provam isso, pois
o modo como ele reclama de Deus no versículo 2 mostra que seu coração não era
correto diante de Seus olhos.
No restante do capítulo, encontramos Jó
aprofundando sobre a maneira como Deus trata com o hipócrita. Ele estava praticamente
acusando seus amigos de serem hipócritas em suas acusações contra ele, então parece
que suas palavras eram um aviso para eles de que esse poderia ser o destino deles,
algo semelhante ao que havia acontecido com ele.
Ele prossegue nisso – Jó 28 – com as notáveis
palavras sobre a busca do homem por sabedoria. Nos seus dias, a mineração era praticada:
poderia ter sido uma nova busca, seja por ferro ou cobre, ouro, prata ou pedras
preciosas. Eles cavavam, desviavam o córrego subterrâneo, eles faziam caminhos inexplorados
pelo mais forte dos animais ou o pássaro de visão mais aguçada. Mas em toda essa
busca eles nunca encontraram sabedoria. Essa é a questão que ele levantou no versículo
12 e afirmou com muita razão que não poderia ser encontrada nessas atividades humanas.
Os homens podem descobrir muito e, desde os dias
de Jó, descobriram muito mais, mas a sabedoria lhes escapa. Se Jó pudesse ter tido um vislumbre
das atividades e descobertas do homem em nossa era atômica, ele diria o mesmo, apenas
com ênfase cem vezes maior.
Então, “Onde se achará a sabedoria?” (v. 12). Jó começa a responder a isso
no versículo 23. Deus, que a entende, conhece seu caminho e a declarou ao homem,
como diz o versículo 28. “O temor
do Senhor é a sabedoria; e
apartar-se do mal é a inteligência”. Em todas as declarações feitas durante
essa prolongada discussão, nenhuma coisa mais verdadeira e sábia foi dita. Em Provérbios
9:10, encontramos Salomão fazendo uma declaração semelhante, e isso é comprovado
na história da Igreja primitiva, como vemos em Atos 9:31.
À medida que o temor de Deus se afasta
do coração do homem, também aumenta sua vontade própria, que produz insensatez sem
fim. Na era atual, o conhecimento e a inteligência do homem subiram
a níveis nunca sonhados há um século, e sua loucura destrutiva ameaça descer
a profundidades nunca sonhadas. O Salmo 36:1, citado em Romanos 3:18, expõe
a raiz disso tudo.
Conforme Jó continuou sua parábola no
capítulo 29, ele suspirou por um retorno aos dias de sua prosperidade e, lembrando-se
das acusações de Elifaz, que vimos no capítulo 22, Jó começou a proferir elogios
à sua própria pessoa. Que luz e magnificência lhe pertenciam! Que respeito e até
reverência prestou a si mesmo! E então ele declarou seus atos de benevolência, retidão
e justiça, pelos quais julgava ter direito a um tratamento muito preferencial em
bênçãos vindas da mão de Deus.
Jó 29 tornou-se assim um dos grandes capítulos
do “eu” da Bíblia. Eclesiastes 2 é o capítulo do “eu” de Salomão onde esse pronome
pessoal ocorre 16 vezes nos primeiros 9 versículos: o verdadeiro capítulo do “eu” auto
gratificado. Jó 29 é o capítulo do “eu” auto satisfeito. Romanos 7 é, naturalmente, o capítulo
do “eu” auto condenado.
E ser auto condenado é muito melhor do que ser auto gratificado ou auto satisfeito.
O melhor de tudo é ser auto eclipsado, como encontramos Paulo em Filipenses
3, onde ele menciona “eu” muitas vezes.
Mas nosso capítulo registra como Jó teve
permissão de se deixar levar e entoar seus próprios louvores, e assim nos revelar
a justiça própria e a presunção que se encontravam no fundo do seu coração, escondidas
de todos os olhos, exceto dos de Deus. Trazer isso à tona e levar Jó a julgá-las
e a julgar a si mesmo na presença de Deus, era o objetivo que Deus tinha ao permitir
que Satanás trouxesse essas provações extremas sobre ele.
No momento, porém, Jó estava cheio das
grandes e excelentes coisas que ele havia feito e da posição de liderança entre
seus companheiros que havia sido sua como resultado. Isso apenas tornou mais vívido
o contraste de sua condição atual, e a isso ele se voltou no lamento triste registrado
em Jó 30. Ele agora se tornara o escárnio do mais baixo dos homens, e até do mais
jovem dentre eles. Eles poderiam compor canções sobre sua miséria e até cuspir no
seu rosto – um insulto verdadeiramente cruel. No versículo 20, porém, Jó se voltou
para Deus e fez uma queixa amarga a Ele, e até contra Ele. Jó sentiu que Deus havia
Se oposto a ele, rejeitando-o e desconsiderando suas orações e pedidos, e assim
teria Se “tornado cruel” contra ele.
Pobre Jó! Sem dúvida, homens haviam se tornado cruéis contra ele, e agora Jó achava
que Deus também Se tornara cruel contra ele. Nos versículos finais deste capítulo,
ele descreveu o estado extremo de fraqueza corporal, miséria e corrupção para o
qual foi levado. Deus havia dado a Satanás permissão para fazer o pior que
quisesse, sem tirar-lhe a vida. Com habilidade maligna, Satanás reduziu seu corpo
a um estado de doença repugnante que, supomos, nenhum homem sofreu antes ou depois;
pois em todos os outros casos a vítima teria morrido antes que uma quantidade tão
grande de problemas corporais pudesse se desenvolver. Não julguemos Jó severamente.
Em uma situação tão assustadora como a dele, provavelmente deveríamos ter dito coisas
muito piores do que ele.
Tendo proferido essas tristes queixas,
Jó encerrou seu longo discurso, como vemos em Jó 31, com uma série de afirmações
quase que equivalendo a juramentos. Seus amigos o acusaram de pecados específicos
e de mal proceder. Quanto a essas coisas, sua consciência estava limpa, porém, como
vimos, ele admitiu que não era puro aos olhos de Deus. Assim, ele afirmou veementemente
que não havia cometido os tipos de mal que foram alegados ou insinuados.
O capítulo 31 dá testemunho do fato de
que, antes de a lei ser dada, um alto padrão de moralidade ainda era encontrado
entre os homens tementes a Deus; um padrão que dizia respeito não apenas ao ato
exterior, mas também ao motivo interior que dirigia o ato: veja, como exemplos disso,
ele falou do que pensava, ou
não
pensava, no versículo
1; de seu coração caminhando após seus olhos, no versículo 7; e, novamente,
seu coração sendo secretamente seduzido, no versículo 27; e
de esconder sua iniquidade e cobrir seus pecados,
como fez Adão, no versículo 33. Isso pode nos lembrar do Sermão da Montanha; particularmente
se compararmos suas palavras no versículo 30 com as palavras de nosso Senhor em
Mateus 5:24, uma vez que apenas desejar uma maldição ao seu inimigo seria um pecado.
Mais uma vez, ele sabia que o engano e
a falsa testemunha eram coisas erradas (v. 5); que o adultério (v. 9) e a idolatria
eram coisas erradas (vs. 26-28), já que o culto ao Sol e à Lua era a forma mais
primitiva que a idolatria assumia. Assim também sabia que ele não deveria cobiçar
o que seu vizinho possuía, mas, em contraste, ele deveria ser um doador para as
necessidades dele, como vemos nos versículos 13-22.
Portanto, é evidente que o padrão de conduta
que Jó tinha diante de si era muito alto, e imaginou que o havia observado rigidamente.
Ele sabia também que haveria um dia em que Deus Se levantaria e o visitaria e ele
perguntou: “que Lhe responderei?” (v.
14 – TB) Revendo todas essas coisas, Jó sentiu que poderia invocar uma maldição
sobre si mesmo, se não o tivesse observado: que em sua terra poderiam crescer “espinhos em lugar do trigo, e plantas
daninhas em lugar de cevada” (cap. 31:40 – TB). Com isso, Jó também
caiu em silêncio.
O fim que o Senhor alcançou com Jó é ainda
mais impressionante pelo fato de que, em minha opinião, essas afirmações de si
mesmo estavam corretas. No início, Jeová testemunhou que Jó era perfeito (JND) e
reto, e quando finalmente interveio, Ele não pronunciou palavras de contradição.
É justamente isso que transmite uma força tremenda ao absoluto aborrecimento e julgamento
próprio que brotou dos lábios de Jó, antes que ele fosse abençoado no final da história.
O segundo discurso de Elifaz está registrado
em Jó 15, e nele podemos detectar um aumento do tom de severidade. Os amigos vieram
com a intenção de consolar, mas seus esforços nessa direção logo foram desviados
para a discussão; seus temperamentos aumentaram e a amargura estragou o espírito
deles, enquanto cada um argumentava para estabelecer seu próprio ponto de vista.
Quantas vezes ao longo dos séculos essa tragédia, terminou em dissensão e divisão,
estragando o testemunho de pessoas
tementes a Deus, até os nossos dias.
Esse discurso de Elifaz é curto, pois ele
sentiu que era um homem sábio, argumentando com palavras que de nada servem e ouvindo
discursos que nada valiam. Ele considerou que Jó estava fazendo vão o temor; ou
como outra versão diz, estava “tornando a
piedade sem efeito” (JND) e, assim, restringindo a oração. Na opinião de
Elifaz, a piedade tem o efeito proveitoso de trazer sobre alguém o favor de Deus,
expresso na prosperidade terrenal. Se não fosse assim, onde estaria o ganho prático
da piedade? Portanto, as terríveis aflições de Jó só poderiam ter uma explicação,
pensou ele, embora Jó insistisse em manter sua integridade.
Essa ideia de Elifaz e seus amigos é muito
comum. Foi encontrada quando Paulo escreveu sua primeira epístola a Timóteo em uma
forma muito pior do que nos dias de Jó, pois ele fala de “homens corruptos de entendimento” que se entregam a “contendas”, porque supõem que “a piedade seja causa de ganho” (1 Tm 6:6).
A tradução de J. N. Darby parafraseia levemente o versículo, como “sustentando ser o ganho a finalidade da
piedade”. Ora, essa era praticamente a opinião de Elifaz, e hoje não há poucas
pessoas que concordariam com ele. Eles diriam: Qual é a utilidade de ser piedoso
se não garantir coisas proveitosas nesta vida? Ideias desse tipo eram menos censuradas
nos dias de Jó, já que as coisas da eternidade e do céu eram pouco conhecidas
naquele tempo.
Elifaz agora condenou Jó em termos vigorosos
e injustamente, como vemos no versículo 6. Para ele, os argumentos de Jó eram astutos
e o condenavam. Ele os enfrentou por meio de uma série de seis perguntas, registradas nos versículos 7-9, todas elas tendo o aguilhão
de sarcasmo. No versículo 10, ele alegou que a posição, promovida por ele e seus
amigos, tinha a sanção e o apoio de homens muito idosos e veneráveis. Sem dúvida
foi assim. Os três amigos de Jó estavam promovendo a ideia geralmente sustentada,
talvez baseada na libertação que Deus deu a Noé e sua família quando veio o dilúvio.
Então os piedosos eram favorecidos e os ímpios destruídos, e assim, eles achavam,
sempre deveria ser.
Mais perguntas seguem nos versículos 11-16.
As afirmações de Bildade sobre a santidade de Deus são bastante corretas. Os céus
inferiores, profanados pela presença de Satanás, de fato “não são puros à Sua vista” (JND). Suas afirmações sobre a imundície
do homem são igualmente verdadeiras; mas a dedução de que Jó deve ser culpado de
males secretos, para os quais Jó “fechou os olhos” em vez de os reconhecer, estava
incorreta.
Do versículo 17 até o final do capítulo,
encontramos uma descrição vívida do julgamento governamental de Deus contra os iníquos.
Ele garantiu a Jó que ele realmente havia visto Deus agindo dessa maneira.
Foi o fruto de sua própria observação que ele declarou;
e, ao encerrar, ele não deixou de fazer acusações indiretas adicionais contra Jó,
falando de homens que foram “enganados”,
de “hipócritas”, de “tendas do suborno” e de “engano”.
Isso moveu Jó para a resposta registrada
em Jó 16 e 17. Todos podemos nos comover com suas palavras iniciais. Seus amigos
estavam simplesmente repetindo a mesma ideia básica de várias maneiras; ou seja,
que as catástrofes que vieram sobre ele deveriam ter apenas uma explicação. Ele
deve
ter sido um hipócrita com males ocultos por baixo de seu piedoso exterior. Se
esse era o conforto que eles tinham para lhe oferecer, era de um tipo muito miserável.
Ele lhes disse imediatamente que se a posição fosse invertida e ele os visitasse
em seus infortúnios, poderia falar como eles haviam falado, mas não o faria, mas,
ao contrário, tentaria amenizar a aflição deles.
Mas é perceptível que, após sua resposta
inicial a Elifaz, as palavras de Jó passaram à oração e queixa, derramadas aos ouvidos
de Deus. Parece que os versículos de 9 a 11 são uma referência ao que ele havia
sofrido com os discursos de seus amigos e, nesse caso, mesmo isso ele tomou como
castigo vindo das mãos de Deus, bem como todas as perdas e tragédias que vieram
sobre ele. O fato de ele ter tomado tudo como vindo das mãos de Deus foi realmente
bom, mas ainda assim percebemos aquele tom de justiça própria e de autodefesa manchando
sua oração, especialmente no versículo 17. Sendo assim, sua oração se tornou numa
queixa de que ele estava sendo duramente tratado por Deus, e isso especialmente
porque ele sentia que poderia falar de Deus como estando no alto Aquele que era
a Testemunha de sua integridade, mesmo que seus amigos o desprezassem.
As palavras de abertura do versículo 21
foram traduzidas por J. N. Darby: “Oh, que
houvesse arbitragem para um homem com Deus!” Assim, sua mente se voltou ao seu
desejo de um “Árbitro”, registrado no
final de Jó 9. Um homem poderia interceder por seu próximo ou amigo, mas ele sentia
que não havia ninguém que interviesse entre Deus e ele mesmo, e ele só podia perceber
que estava perto de seu fim. Seu espírito se esvaía e a sepultura estava pronta
para ele, como declarou no primeiro versículo de Jó 17. Provavelmente, temos pouca
noção do estado de extrema e prolongada corrupção e miséria corporal que ele estava
enfrentando.
No entanto, algumas percepções adicionais
nos são dadas em Jó 17 quanto ao seu estado. Tão extremas eram as declarações de
seus amigos que lhes pareciam zombaria. Entre as pessoas em geral, ele havia se
tornado um “provérbio”, e a segunda parte
do versículo 6 diz: “tornei-me como aquele
em cujo rosto se cospe” (ARA). Isso, no entanto, surpreenderia homens retos,
e Jó parece virar o jogo contra seus críticos
ao insinuar que eles poderiam ser os hipócritas, enquanto os justos se manteriam
em seu caminho, e aquele que tivesse as mãos limpas aumentaria em força. Quanto
a esses “amigos”, não havia um homem
sábio entre eles.
As palavras finais deste discurso de Jó
são uma queixa muito triste sobre a desesperança de sua perspectiva. Quanto ao seu
pobre corpo, apenas a corrupção e o verme estavam diante dele, quando sua alma estaria
no mundo invisível. A palavra traduzida como “sepultura” no versículo 13, é sheol em hebraico, o equivalente a hades no grego, usado no Novo Testamento. Esse comovente lamento poderia muito
bem ter tocado o coração de seus amigos.
No entanto, Bildade começa seu segundo
discurso, registrado em Jó 18, em uma nota muito dura. Jó certamente ainda não havia
chegado ao fim de si mesmo, e nos argumentos de seus amigos não havia nada que o
levasse a pôr “fim às palavras”
(ARF). A segunda parte do versículo 2 foi traduzida: “Entendei, e depois falaremos” (TB). Bildade evidentemente considerava
o repúdio de Jó à posição deles e às afirmações que eles apresentavam, como degradantes
para si mesmos como se fossem animais, e por isso se entregou a uma réplica insultuosa.
Todos os quatro homens temiam a Deus, especialmente Jó, mas perceba como o espírito
que animava as palavras deles tinha se deteriorado!
E que aprendamos uma lição séria com isso.
Houve inúmeras discussões entre Cristãos, evoluindo para controvérsias e terminando
em recriminação. Tal é a carne em cada um de nós. Mesmo Paulo e Barnabé não estavam
isentos, como Atos 15:39 mostra. Então, estejamos avisados.
O restante do discurso de Bildade segue
o padrão estabelecido pelos amigos. De várias maneiras, exibindo uma mente muito
fértil em sua observação e no uso de figuras, ele reiterou o tema principal; que
Deus sempre julga e destrói os iníquos. A dedução, é claro, é que afinal Jó devia
ser um homem perverso.
A resposta de Jó, no capítulo 19, a essas
palavras bastante cruéis foi em um nível totalmente superior. Eles realmente o estavam
irritando com palavras e quebrantando-o em pedaços, mas ele não alegou ser perfeito
– longe disso, como vimos em Jó 9. Aqui, no versículo 4, ele admite errar, mas afirmou
que seus erros haviam afetado apenas a si mesmo e não a outras pessoas. O que havia
acontecido consigo, ele tomou como vindo da mão de Deus, como mostra o versículo
6, mas ele sentiu que Seus tratos eram desnecessariamente severos.
Portanto, nos versículos 7 a 20, temos
uma viva descrição das misérias que ele estava sofrendo. Ele reclamou que Deus o
havia despojado, cercado seu caminho, destruído por todos os lados, acendido Sua
ira contra ele como se ele fosse um dos Seus inimigos. Como resultado disso, ele
foi um objeto de desprezo e abandonado por todos. Até seus servos e sua esposa não
queriam nada com ele. As palavras com as quais ele encerrou essa descrição de suas
tristezas no versículo 20, aludindo ao seu estado físico, passaram a ser um provérbio
entre nós.
Tendo assim falado, ele suplicou a seus
amigos por compaixão, em vez de polêmica e censura, o que quase resultou em perseguição.
Foi a mão de Deus que o tocou – Deus, que era mais misericordioso do que eles. Por
isso, ele desejava que suas palavras pudessem ser preservadas em um livro, ou mesmo
permanentemente gravadas numa rocha, como era costume naqueles dias por parte de
reis e grandes homens. Esses discos de rocha têm sido descobertos e decifrados,
mas seu desejo foi concedido de uma maneira mais maravilhosa do que ele imaginava;
pois eles foram registrados na Escritura inspirada, que sobrevivem e se distanciam
de tudo o mais.
Mas por que ele desejou isso? Foi porque
ele sabia que seu Redentor vivia, e que, como “o Último” (JND), Ele Se levantaria sobre a Terra. A tradução de J.
N. Darby O apresenta assim – “o Último”
– como sendo realmente um nome de Deus, referindo-se a Isaías 48:12. Assim, novamente,
e com muita clareza, Jó revelou que sabia que a morte não era o fim de tudo para
o homem e que esperava uma ressurreição que tocaria seu corpo. O que não foi então
revelado era o estado de incorrupção no qual a ressurreição
nos introduz, pois a vida e a incorruptibilidade vieram à
tona pelo Evangelho, como temos em 2 Timóteo 1:10 (JND), traduzido corretamente.
Embora a verdade tenha sido progressivamente
revelada, certos grandes fatos proféticos surgiram à luz nos primeiros dias. Havia,
por exemplo, a profecia de Enoque, proferida antes do dilúvio, embora não tenha
sido registrada nas Escrituras até a última epístola do Novo Testamento. Sem dúvida,
Jó teria conhecido essa previsão de Enoque, e é notável que nada que ele diga aqui
esteja em desacordo com o que é revelado em épocas posteriores. Quando o glorioso
Cristo ressuscitar os santos, Jó, entre eles, realmente “verá a Deus” e O verá, como disse, “em minha carne”, embora não soubesse que seria ressuscitado com um
corpo
espiritual como o corpo
de ressurreição de nosso Senhor.
O discurso de Jó neste capítulo termina
com um aviso aos amigos. Ele alegou que “a
raiz da questão” (v. 28 – JND) foi encontrada em si mesmo, e que o julgamento
de Deus é imparcial, para que eles próprios tenham temor.
Isso levou Zofar a falar mais uma vez,
e desta vez ele revelou claramente a base sobre a qual seu argumento se apoiava.
Ele disse: “os meus pensamentos me fazem responder”; e novamente,
“o
espírito do meu entendimento responderá
por mim”. Elifaz baseou suas observações principalmente no que tinha visto, e Bildade principalmente
no que tinha ouvido, transmitido desde
os tempos antigos. Zofar baseou suas palavras naquilo em que ele havia chegado em suas próprias cogitações interiores, e,
em sua confiança própria de absoluta convicção, não estava nem um pouco atrás dos
outros; de fato, parece tê-los superado.
Em 1 Coríntios 2:9, o apóstolo Paulo se
refere a Isaías 64:4 e mostra que as coisas de Deus são conhecidas apenas por nós
como fruto de revelação. Neste
sentido, ele menciona as três faculdades pelas quais a humanidade obtém seu conhecimento
das coisas e assuntos neste mundo. O olho os vê; o ouvido os ouve; eles entram no
coração por um processo intuitivo. Mas, para as coisas de Deus, precisamos de outra
faculdade – aquela que brota do Espírito de Deus.
Ora, é muito impressionante que, como vimos,
Elifaz dependesse de seus poderes de observação e Bildade da tradição
desde os tempos antigos. Zofar entrou agora, muito certo de que seus poderes
de intuição nesse assunto devem estar corretos e além de
qualquer contradição. Todos os três estavam errados, e não foi até que houve uma
revelação
do poder e da sabedoria de Deus, nos últimos capítulos do livro, que a verdade
da situação foi colocada com clareza. Somos informados de uma ilustração interessante
do que Paulo estabelece em 1 Coríntios 2.
Como nos outros casos, aqui, várias coisas
verdadeiras são declaradas. Certamente é fato que “o triunfo dos iníquos é breve, e a alegria dos ímpios é apenas dum
momento?” O que não era verdade era a aplicação feita do fato, como fornecendo
a explicação de todos os sofrimentos de Jó. O “gozo do pecado” é apenas “por
um pouco de tempo”, como lemos em Hebreus 11, mas também é um fato que os santos
podem estar “por um pouco contristados
com várias tentações”, como lemos em 1 Pedro 1:6. Parece nunca ter entrado
na mente dos três amigos o pensamento de um homem piedoso estar sob severa provação
e tristeza por um tempo. Eles assumiram que Jó estava recebendo o que ele merecia
o tempo todo.
Zofar afirmou que o que ele sabia intuitivamente
era apoiado pelo que havia acontecido “desde
a antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a Terra”. Lendo Jó 20, podemos
ver quão implícita estava em suas declarações a insinuação de que Jó era culpado
de vários atos de iniquidade. Ele era aquele que havia se esforçado para absorver
o sustento dos outros, para oprimir os pobres; que havia tomado violentamente uma
casa que não havia construído, e assim por diante. O fato é que o homem que baseia
seu argumento em sua própria intuição sempre tem uma convicção absoluta e é pretencioso. Ele tem que ser assim, para compensar a falta de evidências
exteriores, o que confirmaria suas afirmações.
Sua conclusão final foi que o céu estava
revelando a iniquidade de Jó, e a Terra se erguia contra ele, e tudo isso lhe fora
designado por Deus.
A resposta de Jó é registrada em Jó 21,
e que provou ser uma resposta incisiva. Naturalmente, ele foi provocado a retaliar
com a mesma convicção absoluta e a começar com uma nota de sarcasmo. O versículo
2 foi traduzido: “Ouça atentamente meu discurso
e deixe que isso substitua vossas consolações” (JND). Resumir os discursos dos
três amigos como sendo “consolação” era,
obviamente, uma pitada de sarcasmo. Como ele realmente viu as palavras deles está
claro no final do próximo versículo, quando Jó lhes disse que, depois de falar,
eles poderiam “zombar!” Ele percebeu
completamente a força das palavras deles, que insinuavam que ele devia ter sido
culpado de uma grave injustiça e pecado, enquanto o tempo todo aparentava ser um
homem de grande piedade.
Seu primeiro ponto é o seguinte: sua queixa
não era para o homem, mas para Deus. Se fosse para o homem, bem, seu espírito poderia
ter sido “angustiado” ou estaria “impaciente”. Ele lembrou que era com Deus
que, tanto ele quanto eles, tinham que tratar. Em vista desse fato, e indicando
o trato de Deus com ele, eles poderiam muito bem pôr as mãos na boca e deixar de
condená-lo. Por si mesmo, ele se perturbava e ficava apoderado de terror quando
se lembrava disso.
A partir do versículo 5, encontramos as
contra-afirmações às quais ele se comprometeu. Não era o caso, afirmou ele, que
os ímpios estavam sempre sobrecarregados de calamidades. Pelo contrário, eles frequentemente
viviam, envelheciam, grandes em poder e prósperos, com seus descendentes estabelecidos
diante de seus olhos. Eles tiveram momentos de alegria e prazer e, no final, não
tinham prolongado a miséria tal como ele estava enfrentando, mas “num momento descem à sepultura [Sheol – TB]”. E o tempo todo, a atitude deles em relação a Deus era: “Retira-Te de nós, porque não desejamos ter
conhecimento de Teus caminhos”.
Observemos duas coisas. Em primeiro lugar, Jó aqui diagnosticou corretamente
a atitude do homem natural em relação a Deus, cerca de dois mil anos antes de Paulo
ser inspirado a escrever sua epístola aos romanos. Ali, no primeiro capítulo, lemos
que os homens “tendo conhecido a Deus,
não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças”; e novamente que “eles não se importaram de ter conhecimento
de Deus” (Rm 1:21, 28 – ARF). Este é o tremendo fato que temos que enfrentar.
O pecado alienou tão completamente o homem de Deus que o homem não tem o menor desejo
por Ele. “Não há ninguém que busque a Deus”,
como Romanos 3:11 declara.
As declarações de Jó nos versículos 14
e 15 concordam com isso e explicam o estado pagão e incivilizado em que os homens
se afundaram no estágio inicial da história do mundo – um estado que persiste até
nossos dias. Nos primeiros tempos, os homens tinham algum conhecimento de Deus,
do qual voluntariamente se afastaram.
E é óbvio que se os homens têm de
tratar com Deus, eles terão que servi-Lo. Então, em segundo lugar, eles veem toda a questão do
ponto de vista do proveito terrenal. É exatamente isso que as multidões fazem hoje,
quando perguntam: qual é a vantagem de ser religioso; o que ganhamos com isso? Eles
estão apenas ecoando as palavras que temos aqui: “que nos aproveitará que Lhe façamos orações?” Sabemos que “a piedade para tudo é proveitosa, tendo a
promessa da vida presente e da que há de vir” (1 Tm 4:8). Mas esse tipo de proveito
o mundo não tem olhos para ver.
No restante do capítulo, Jó fala do fim
daqueles que visam excluir Deus de seus pensamentos e vida. Por fim, uma
catástrofe se aproxima deles e sua “lâmpada”
é apagada (v. 17). Alguns podem morrer em aparente conforto e prosperidade e outros
em amargura; mas todos eles vão para o pó e entre os vermes. Ao dizer essas coisas,
Jó parece concordar com o que o Salmo 73 nos diz, com relação à uma experiência
do seu escritor. Os iníquos podem se afastar de Deus e parecer prosperar, pois o
divino julgamento deles está além desta vida.
Então, mais uma vez, Jó rebate os argumentos
de seus amigos, declarando que havia falsidade neles. Consequentemente, embora tivessem
vindo consolá-lo, ele descobriu que o “consolo”
que eles haviam oferecido era vazio e inútil.